segunda-feira, 30 de novembro de 2015

O que o pôquer pode ensinar aos eSports

Os esportes eletrônicos ainda possuem um longo caminho para a aceitação e o jogo de cartas pode - e muito - auxiliar nesse quesito
A relação entre pôquer e eSports pode não ser óbvia para algumas pessoas, mas existe e é ainda mais próxima do que se pode imaginar. O jogo de cartas, hoje considerado esporte, já passou pelos mesmos problemas que os esportes eletrônicos enfrentam atualmente - desde preconceito até questões de regulamentação. Ainda há muito a se aprender com esse tipo de experiência.
Não é difícil encontrar matérias sensacionalistas sobre como os videogames podem ser prejudiciais à formação da juventude ou como o estilo de vida de pessoas que jogam diariamente traz um alto nível de sedentarismo. O pôquer já passou por esse tipo de discriminação ao ser diversas vezes retratado como um jogo de azar, principalmente no Brasil, um dos poucos países no mundo onde cassinos são ilegais.
As pessoas acreditavam que o pôquer era uma atividade ilícita. Não havia uma legislação sobre isso. O jogo sofria muito preconceito por conta do cinema, da música e de outras artes que sempre o retratavam de forma pouco profissional. Com a explosão do pôquer no mundo, o aumento das premiações dos campeonatos e a exposição na TV, as pessoas começaram a mudar sua noção”, diz Sergio Prado, comentarista da ESPN e especialista na área.
A clássica retratação do pôquer, com seis homens bebendo e fumando num ambiente fechado e mal iluminado, foi por água abaixo quando a modalidade cresceu mundialmente. Muitas vezes, a concepção leiga sobre os eSports é tão pejorativa quanto: cinco adolescentes sentados no computador jogando sem parar e não praticando nenhuma outra atividade o dia inteiro. Sabemos que é muito mais que isso.
Sergio Prado, especialista em pôquer
Sergio Prado, especialista em pôquer
 
Agora, temos uma competição na qual é proibido fumar e beber. É um negócio disciplinado. Temos federações e estamos transformando o pôquer em algo organizado. OMinistério do Esporte e o Comitê Olímpico Internacional o reconheceram como esporte. Nós mostramos os vários estudos e laudos, isso ajudou bastante”, completa Prado.
O pôquer é considerado um esporte da mente, uma categoria que se assemelha em diversos pontos com os esportes eletrônicos. Para prado, o jogo de cartas e os eSports deveriam estar na mesma categoria. “O esporte é sempre associado com a atividade física: se você não está suando ou fazendo um exercício muito claro, não é esporte. Mas a hora que seu cérebro está ali, durante 12 horas pensando, concentrando e fazendo cálculo, com a adrenalina bombando no momento que você está dando um blefe e o coração parece que vai sair pela boca - é diferente, mas existe esforço nisso também”, constata o especialista.
Assim como no pôquer, os cyberatletas precisam de um preparo psicológico e físico. A estafa mental e o estresse de estar em uma competição - no caso dos eSports, intensificado pela presença maciça do público - podem nem ser o pior problema dos jogadores, que muitas vezes enfrentam diversos tipos de lesões pelos esforços realizados. Em situações críticas, eles precisam inclusive se aposentar.
O mesmo caminho a ser trilhado
A briga para o reconhecimento dos eSports como esporte ainda está no começo, mas pode seguir um caminho similar ao do pôquer. O jogo de cartas começou a surgir verdadeiramente no Brasil em meados de 2005 e só recentemente iniciou seu processo de regulamentação. “Ainda não existe uma legislação que fale ‘jogador, você vai no torneio e vai recolher o imposto X’. Já existe o imposto de renda, mas ainda não é nada que torna o esporte 100% regularizado. Quando isso acontecer, deve acabar o preconceito”, prevê Prado.
Se ainda existem empecilhos mesmo após dez anos de presença do pôquer no país, é natural que a aceitação dos esportes eletrônicos seja igualmente conturbada. Ainda que existam torneios profissionais no país há uma década, só agora o governo brasileiro procurou a Federação Brasileira de Pôquerpara conversar sobre regulamentação e leis. Enquanto isso, a noção de eSport como uma atividade esportiva ainda é debatida mundialmente.
Apesar das dificuldades e da aparente lentidão de um reconhecimento oficial, os esportes eletrônicos andam em ascensão e devem crescer de forma mais acelerada do que se pode imaginar. Muitos países já dão a merecida atenção para o cenário e é necessário também levar em consideração a questão da mudança de gerações.
A geração que vem agora já não tem esse preconceito. Por exemplo, tem uma molecada de 15, 18, 19 anos que cresceu vendo pôquer na ESPN - é natural, já entra na internet e vê ali, então eles não tem esse preconceito. Com essa alternância de gerações, isso vai logo acabar”, afirma Sergio Prado.
Boa parte da aceitação do pôquer como esporte está relacionada a sua exposição positiva em mídias tradicionais como a televisão. Entretanto, os eSports crescem em um momento no qual a TV já não tem mais o mesmo poder de convencimento. Os jovens já trocam o televisor pelo PC há algum tempo: um estudo requisitado pela Defy Media revela que a geração Z (pessoas nascidas entre 1992 e 2010) passa mais de 22 horas por semana assistindo conteúdo online. Dessa forma, o caminho de reconhecimento dos eSports pode nem passar para as redes televisivas, pois o próprio público está mudando seus comportamentos.

Fonte/Crédito:Omelete http://omelete.uol.com.br/esports/artigo/o-que-o-poquer-pode-ensinar-aos-esports/ 


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