O dia 17 de novembro de 2006 marcou o mundo do videogame para sempre. Naquela sexta-feira o PlayStation 3, a 'máquina à prova do futuro', chegou aos EUA. O console que muitos amam era desajeitado, pesado e caro demais - ninguém queria pagar US$ 600 num bloco de 5 Kg e 32 cm de largura. Tanto que levou algum tempo para a máquina entrar nos trilhos e, assim, conquistar mais de 80 milhões de consumidores ao redor do globo.
Sete anos depois a Sony coloca nas prateleiras das lojas o sucessor do seu console de mesa. A estreia do PS4 aconteceu no dia 15 de novembro nos EUA custando US$ 399, bem mais barato do que foi o PS3 em seu lançamento. Porém, aqui no Brasil, que o lançamento está agendado para o dia 29 de novembro e pelo preço absurdo de R$ 4.000 - um outro marco histórico, só que agora negativo.
Entre jogos em alta definição e um aprofundamento maior em redes sociais, o PlayStation 4 deixa claro que é uma máquina para jogos. Os recursos multimídia, como ver fotos e assistir a filmes em pendrives, ficaram de fora do console. Mas será que isso realmente importa para você? Vamos conhecer essa máquina e todos os seus recursos.
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Visão frontal do controle DualShock 4. Divulgação
A caixa preta
Há muitos anos a Sony era conhecida por ter equipamentos de qualidade, porém pobres no visual. Dê só uma olhada no modelo original do PS3 e diga francamente se aquele aparelho era bonito. Não era. Mas as coisas mudaram e agora é nítida a mudança de rumo da companhia. A caixa que guarda os componentes eletrônicos do PS4 mede 275 mm de largura, 53 mm de altura e 305 mm de profundidade - menor até do que a segunda versão do PS3 Slim.
Caixa não: um paralelogramo dividido em quatro partes, sendo que duas dessas partes são lisas e brilhantes, com a gravura da família PlayStation na parte de cima, e as outras duas em um material áspero, com detalhe do logotipo do console no canto frontal direito. Em questões estéticas, o PlayStation 4 é um console muito bonito e com um ar moderno, talvez o videogame mais atraente da história da Sony.
RESOGUN
Produzido pela Housemarque, a produtora de "Super Star Dust HD", "Resogun" é um dos principais jogos do PlayStation 4. Com ação incessante, as explosões que acontecem o tempo todo fizeram com que eu ficasse de boca aberta ao ver tantas partículas se espalhando pela tela. Definitivamente é um título que você precisa jogar nessa primeira leva do console.
- Rodrigo Guerra
Em termos de conexões, aposta seguro e não tenta inventar moda. Na a frente, entre as camadas superiores e inferiores estão presentes duas entradas USB 3.0, e ao lado delas os botões de Power e Eject, que dividem o lado brilhante do áspero. Verdade seja dita, os símbolos dos botões poderiam ser mais legíveis – no início é fácil se confundir. Escondido entre as camadas superior e inferior fica o leitor de Blu-ray. O leitor faz um barulho ou outro na leitura de disco, mas nada que saia do comum.
A parte de trás do console possui poucas entradas e saídas, mas sem firulas extras e desnecessárias. Uma saída HDMI, uma saída digital ótica para home theater, uma entrada de energia, uma entrada para a PlayStation Eye e uma entrada de rede para ligar o console à internet. O PlayStation 4 pode também se conecta via Wi-Fi usando o padrão 802.11 b/g/n, que não é a tecnologia mais avançada nem a mais estável do mercado, mas é o padrão da atualidade.
Dentro da carcaça temos um chip Jaguar CGPU de 64 bits e oito núcleos da AMD que tem a arquitetura x86 com capacidade de produzir 1.8 TFLOPS (operações de ponto flutuante por segundo), a mesma que você usa em seu computador e que acaba facilitando o trabalho dos desenvolvedores na hora de programar os jogos.
O PS4 conta com 8 GB de memória RAM GDDR 5, leitor de Blu-ray de 6x de velocidade (o do PS3 era de 2x). Finalizando, o aparelho tem um disco rígido de 500 GB e que pode ser trocado facilmente, o que possivelmente será feito por quem baixa muitos jogos, tendo em vista que alguns títulos chegam a ocupar 50 GB de dados. É uma máquina de poder respeitável, que roda games em 1080p a 60 quadros por segundo, o mínimo o que se espera de um videogame de nova geração.
O melhor DualShock da história
Quem vê de longe não imagina que o DualShock 4 mudou muito em relação aos controles anteriores da família PlayStation. O layout realmente lembra muito ao original do PSone, porém a tela de toque e a distância dois botões quadrado, círculo, triângulo e X foi alterada, deixando-os simetricamente mais próximos.
Os botões de ombro, L1 e R1, possuem mais espaço para os dedos indicadores e os gatilhos foram desenhados para dar um controle melhor sobre os jogos de tiro e de corrida. Já o direcional é praticamente o mesmo que conhecemos há anos, porém dão a impressão de terem vindo amaciados de fábrica – quem joga games de luta vai ficar animado com isso.
Os botões da face e do ombro perderam a sensibilidade de pressão. Isso é até compreensível, já que poucos games utilizaram esse recurso. Dessa forma, o mais leve toque é suficiente para fazer a ação que você quer.
Mas agora que começam as mudanças profundas: o DualShock 4 é mais esticado do que o DS3 para acomodar uma pequena superfície sensível ao toque, como o touchpad de um notebook. Poucos jogos usam o recurso, mas os que usam, como "PlayRoom" e "Killzone: Shadow Fall", mostram que a área é precisa o suficiente para não atrapalhar a jogatina.
KILLZONE: SHADOW FALL
O novo título Guerrilla Games é com toda certeza o game mais bonito do lançamento: teve certos momentos que eu simplesmente esqueci de atirar nos inimigos pensando que estava assistindo a uma cena em CG. Infelizmente, beleza não põe mesa, depois de algum tempo o jogo começa a se tornar repetitivo e a história passa ser sofrível. Ao menos o multiplayer serve para variar o que já está estabelecido.
- Rodrigo Guerra
No lado esquerdo da tela existe o botão Share, que ocupa o espaço do antigo botão Select, mas com muito mais utilidade: compartilhar momentos dos jogos (falaremos sobre isso mais adiante). Já à direita o botão Options é muito mais útil do que o Start, já que é por ele que você controla as opções não só dos games, mas também de aplicativos e da área de trabalho. Abaixo do touchpad, a Sony traz um autofalante que ajuda a dar imersão nos jogos – uma função que há anos faz parte do Wii Remote. Logo abaixo da caixinha temos o botão PS que nos leva para a tela inicial do console.
O controle possui uma entrada para o fone de ouvido que acompanha o PlayStation 4. O melhor é que essa entrada pode ser usada com o fone de ouvido de seu smartphone, já que o padrão P3 – infelizmente, por algum motivo estranho os fones da Apple não funcionam com o controle. Além disso, o controle conta uma entrada multiuso e a entrada do cabo Micro USB para carregar e sincronizar o controle com o PS4. Por falar em carregar, o controle pode ser carregado enquanto o videogame está desligado, um conforto a mais na hora de jogar.
Entre os gatilhos vemos a barra de luz que fará às vezes do Move, servindo para controlar alguns games que utilizam a câmera PlayStation Eye. Entretanto, alguns jogos podem usar essa luz como firula, como no caso de "Need For Speed: Rivals", onde a luz acende em vermelho quando você está fazendo missões de corredor, e azul quando você está controlando um carro policial.
O controle do PlayStation 4 possui alavancas analógicas que dão mais firmeza para os dedões, algo que realmente era incômodo no DualShock 3. Porém, o controle não parece ter espaço para movimentos sutis, já que a base da alavanca é um pouco grossa demais. Mas só saberemos disso com certeza no futuro, quando mais jogos saírem para a plataforma.
A confusa e poluída interface
Depois de sete anos no PlayStation 3 (e muito mais nas TVs da linha Bravia) a Sony não quis se desfazer por completo do Menu XMB, entretanto são muitas mudanças que vão requerer um novo aprendizado. Agora são duas barras que correm lateralmente, uma para as funções básicas do console, como acesso à PlayStation Store, lista de amigos, configurações, etc.
Nesta primeira coluna você vai encontrar funções novas como o seu perfil, onde você vê suas últimas conquistas, pode escrever uma minibiografia e outros detalhes de personalização. O menu Party é onde você junta até três amigos para conversar enquanto joga, e pode ser até jogos diferentes (alguém lembrou do Xbox 360?). E outra coisa que está em evidência é a PlayStation Store, que tem o mesmo visual do PlayStation 3, mas sem tanta lentidão.
A segunda coluna, de maior destaque e ícones maiores, mostra os aplicativos e jogos instalados na máquina. Ela é liderada pelo botão "Novidades", que é como uma rede social que gira em torno dos games do PlayStation 4. Lá você vai ver quando um amigo começa a transmitir uma partida online, quem quebrou seu recorde em um jogo, quem publicou uma foto no Facebook e outras interações sociais.
KNACK
"Knack" foi o primeiro jogo mostrado para o PS4, mas pode facilmente ser o último na sua lista de prioridades para jogar no aparelho. Trata-se de um jogo de ação raso e pouco carismático, com pouco desafio e motivo para jogar. Ao menos, o visual colorido deve empolgar os mais novinhos.
- Claudio Prandoni
No papel a ideia é interessante, porém os blocos com as atualizações de amigos são bagunçados e confusos, sem falar que é neste espaço que a Sony aproveita para colocar propaganda de novos itens da PS Store e produtoras parceiras – propaganda na interface é algo trivial para os donos do Xbox 360, mas é novidade para os fãs da Sony.
Essa listagem não permite, por exemplo, classificar o tipo de atualização que você quer ver. Tudo está jogado em blocos de tamanhos desiguais, causando uma poluição visual cansativa e complicada para achar algo específico, como qual amigo começou uma transmissão online, por exemplo.
Além disso, as notificações da área de novidades não são acionáveis. Se você vê, por exemplo, que um amigo começou a fazer uma transmissão, não adianta clicar no item para ser levado para o programa. Para fazer isso você ainda deve ir para a aba de amigos, encontrar o seu colega e depois escolher a ação de assistir à partida. O botão da notificação serve apenas para você dar uma 'curtida' e nada mais.
Depois da aba Novidades, você pode ir para a direita para navegar entre os jogos e aplicativos usados recentemente. Cada jogo possui um mini-hub que mostra as suas atividades recentes, troféus adquiridos, conteúdos extras na PS Store e quais amigos possuem o jogo – além de um botão Curtir, bem estilo Facebook.
Já os aplicativos ficam escondidos em uma subcategoria. Atualmente temos apenas a opção TV e Vídeo, onde ficam guardados os apps do Netflix, Crackle e outros – a maioria não funciona no Brasil, como é o caso do Hulu Plus e Epix.
À primeira vista a lista em coluna lateral parece intuitiva, porém não é bem assim. Os jogos e aplicativos ficam organizados em ordem de uso, sendo que os mais recentes aparecem primeiro. Você não pode mudar, por exemplo, a ordem dessa lista nem como ela é apresentada. Alguns itens não têm a opção de ser removidos da lista, como o Music Unlimited – você será obrigado a conviver com esse botão pela eternidade.
Talvez o que mais incomode a alguns usuários é que você não pode alterar o papel de parede do PS4. A tela azul com ondas é bonita, mas perdeu um aspecto tão simples que é deixar o videogame com a sua cara.
Uma máquina de jogos
Enquanto a interface de usuário seja um pouco complicada de ser usada, tudo que envolve os jogos funciona bem e de forma simples e rápida. Basta colocar um disco no leitor de Blu-ray para que o videogame comece o processo de instalação automaticamente. Alguns títulos precisam de mais tempo para permitir que o jogador comece a brincar, outros pedem mais tempo. Mesmo se existe uma atualização, você pode deixá-la para ser aplicada depois da instalação do game e começar a jogar: o PS4 faz o update em segundo plano sem impedir que você se divirta.
Alternar entre jogos e aplicativos é outra coisa simples. Você pode, por exemplo, jogar e procurar um guia no navegador sem precisar fechar o game. Mudar para o Netflix, assistir a um filme e voltar para o game, horas depois, no ponto em que estava. A suspensão de games é uma tecnologia que vamos nos acostumar e depois nunca mais vamos conseguir viver sem. Infelizmente você não pode deixar mais de um jogo em modo suspenso – a alternância funciona entre jogos e aplicativos, não entre um game e outro.
Outra coisa bacana do console é a forma que os games podem ser transmitidos pela internet, seja em formato de fotos ou vídeo. O botão Share do DualShock 4 permite capturar momentos de suas partidas e depois compartilhá-los no Facebook ou Twitter de uma maneira tão rápida que você nem vai perceber. As fotos são incrivelmente bonitas e em resolução total (1080p), os vídeos têm duração de até 15 minutos (seja para frente, ou para trás).
Por falar em vídeo, você também pode fazer transmissão de partidas diretamente no Twtich.tv ou pelo Ustream. O serviço é integrado nativamente no sistema do PlayStation 4 e muito simples de ser configurado. Se você tiver a PS Eye, a imagem de seu rosto pode ser usada para dar um ar mais profissional na sua transmissão e a tela da TV da sua sala mostra os comentários de seus espectadores, facilitando assim a interação. Infelizmente nenhum dos dois serviços salva as transmissões – o Twtich.tv prometeu guardar os streans em breve.
Fica claro que o novo console da Sony é uma máquina dedicada a jogos, pois, diferente do PlayStation 3, você não vai conseguir ver as fotos de seu final de semana na praia no PS4, nem conseguir dar uma festa com uma playlist de músicas gravadas no disco rígido do seu console. Baixou um vídeo fora da PS Store? É melhor deixar para assistir no PC mesmo – ou no PS3, que roda até DviX e MKV com direito a legendas.
A câmera e os comandos de voz
Mesmo sendo um acessório opcional, a PS Eye é indicada, ao menos por enquanto, serve principalmente para quem pretende fazer transmissões online. Com ela você pode colocar seu rosto na transmissão, dando mais personalidade e presença para seus espectadores se sentirem mais confortáveis.
JOGANDO ONLINE
Para ter acesso ao modo multiplayer dos jogos de PlayStation 4 você terá que ser assinante da PS Plus, coisa que era gratuita no PS3. Felizmente, games como "DC Universe Online" e "Warframe", que são gratuitos para jogar, não entram nessa limitação. A assinatura, por outro lado, garante acesso a jogos gratuitos, como "Resogun" e "Contrast", e a cada mês vai trazer novos títulos para engrossar a sua biblioteca. No final das contas, são muito mais vantagens ser sócio desse clube do que ficar de fora – e vale lembrar que aqui no Brasil a PS Plus é mais barata do que nos EUA. Veja abaixo o preço da assinatura:
• 1 ano - R$ 100
• 3 meses - R$ 35
• 1 mês - R$ 20
A câmera tem uma boa resolução, não é em HD, mas garante uma boa qualidade de imagem para o "PlayRoom", o jogo de realidade aumentada que vem pré-instalado no PlayStation 4. Assim como na versão de PlayStation 3, a câmera ainda deixa a imagem granulada e também não pode ser usada no escuro. Além disso, ela não é essencial para nenhum dos jogos de lançamento do PS4.
Ao acessar o menu de opções da câmera, você pode habilitar comandos de voz para fazer tarefas gerais no PS4. Só que diferente do Kinect do Xbox One, a câmera do PlayStation 4 não é necessária para fazer comando de voz. Você pode usar o headset ligado ao controle para fazer comandos de voz. O lado negativo é que todos os comandos são em inglês – o console 4 não aceita comandos em português.
Para ativar o comando de voz você precisa dizer "PlayStation" e depois o que deseja fazer como "Take a Screenshot" para capturar uma tela ou, "Back to Home" para voltar à tela inicial. No caso de jogos, você precisa dizer o nome completo do game, como "Injustice: Gods Among Us – Ultimate Edition". Você não pode, por exemplo, ditar uma mensagem em texto para um amigo, nem abrir uma página na internet com o navegador usando apenas a sua voz – e honestamente isso é um pouco decepcionante.
A PS Eye, a câmera do PS4, não é necessária para fazer comandos de voz no PS4, mas é indispensável para quem quer fazer transmissões online
Considerações
O PlayStation 4 é uma máquina poderosa e bonita. A primeira coisa que vemos é que o console está intimamente ligado para o mundo de hoje em dia, altamente conectado por redes sociais e compartilhamento de experiências, seja em vídeo, seja por foto. As novidades que vieram com o console mostram o quanto que estávamos enjaulados no mundo do PlayStation 3, e o que estávamos perdendo com sua limitação técnica.
Por outro lado, ainda são necessários ajustes, principalmente na interface do sistema, que é muito poluída e sem formas de personalização. Talvez o maior impedimento para o público brasileiro seja mesmo o preço desproporcional do console no lançamento em comparação aos EUA – os outros problemas são passageiros e podem ser resolvidos facilmente com uma atualização de software.
É um pouco estranho ver que a Sony cortou algumas das funcionalidades do PlayStation 3, como a possibilidade de abrir arquivos de fotos, MP3, ou mesmo de vídeos. Esse é o maior indicador que, mesmo sendo grande e espaçoso, o PlayStation 3 ainda terá um espaço em seu rack por mais algum tempo.
De qualquer forma o PlayStation 4 está entre nós. Assim como uma nova plataforma que chega ao mercado, é excitante e instigante. Esperamos agora que a Sony cumpra a promessa de ser mais ágil para corrigir esses pequenos problemas e garantir que os próximos meses sejam povoados de games realmente legais para atrair mais pessoas para a próxima geração.